Manual da Qualidade: uma opção na ISO 9001:2015 e mandatório na IATF 16949

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A contradição entre duas das principais normas de gestão da qualidade mostra a diferença de entendimento sobre gestão da qualidade em vários segmentos. Isto se tornou um fato relevante, motivo de debate entre os profissionais da qualidade nestas empresas. Porém, é hora de aproveitar esse debate e instituir um Manual da Qualidade que possa agregar valor à organização e seu sistema de qualidade proporcionando conteúdo que seja diretriz das práticas adotadas e aceitas pela empresa.

O cisma entre a IATF (International Acreditation Task Force) e a ISO (International Organization for Standardization) criou uma situação inusitada no gerenciamento do sistema da qualidade das organizações. Por um lado, a ISO 9001:2015 através do requisito 7.5 – Informação Documentada flexibilizou as exigências e o Manual da Qualidade passou a ser tratado como uma opção.

É provável que muitas organizações venham a fazer a opção por mantê-lo assim como a seus procedimentos, instruções, registros e formulários estabelecidos.

Do outro lado a IATF 16949 surpreendeu a todos com o requisito suplementar 7.5.1.1 – Documentação dos Sistema da Qualidade que requer a existência do Manual da Qualidade em clara contradição ao requisito da ISO 9001:2015. E mais, ainda define a possibilidade de que seja formado por inúmeros documentos e estabelece o conteúdo mínimo.

Mesmo não sendo obrigatório muitas empresas ISO 9001 continuarão a utilizar o Manual da Qualidade

A ISO se propôs fazer adequação a realidade do mundo digital e também ao contexto das empresas considerando seu tamanho, inter-relações, segmentos e tantas outras variáveis. Um ponto há de se concordar, desde a revisão 2008 e anteriormente a revisão 2000 pois ambas são praticamente iguais, uma revolução na comunicação vem ocorrendo no mundo todo. Não havia Redes Sociais, como hoje, nem mesmo os softwares eram tão poderosos em recursos como os que hoje utilizamos.

Este olhar fez com que um novo paradigma em relação a documentação fosse estabelecido permitindo que esta nova forma de gerir pudesse ser adotada com real possibilidade de sucesso.

Mas um novo paradigma está sujeito a aceitação entre aqueles aos quais se destina. E, certamente muita resistência será encontrada. Com isto, gestores de qualidade convencidos da utilidade do Manual da Qualidade irão mantê-los e continuar a se queixar de que ninguém os lê. O tempo irá mostrar se têm razão ou se uma nova forma pode ser definida.

A IATF 16949 se mantém alinhada à ISO 9001:2015

Embora sejam visíveis a diferença entre as duas entidades a norma automotiva mantém-se alinhada com a ISO 9001:2015 através da estrutura de alto nível – chamada SL. Todos os requisitos possuem a mesma sequência de numeração e, como na sua antecessora requisitos adicionais e suplementares foram estabelecidos.

A novidade desta revisão é que o texto da ISO 9001:2015 não é apresentado na mesma. Anteriormente era apresentado num box especial destacado simbolizando o documento base. Agora limita-se a mencionar “Veja requisito da ISO 9001:2015”.

No entanto, a IATF requer a utilização das duas normas para que uma auditoria automotiva seja realizada. Não é possível que uma auditoria ISO 9001:2015 possa ser conduzida e posteriormente uma exclusiva com os requisitos automotivos ocorra para fins de concessão do certificado IATF 16949.

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Só é permitida uma auditoria automotiva com as duas normas simultâneas como um único sistema de qualidade que efetivamente espera-se encontrar. Acabou-se o sonho de quem desejava burlar as exigências.

A IATF 16949 entende que o Manual da Qualidade é necessário

A IATF 16949:2016 requer a adoção do Manual da Qualidade como parte da estrutura formal do sistema da qualidade. Um total de 16 documentos são requeridos na IATF 16949 contrariando a ISO 9001 que não estabelece formalmente qualquer documento e sim Informação documentada, o que dá liberdade aos gestores definirem como realizar.

É notória esta percepção ao permitir que um manual possa ser estruturado como bem entender a gestão das respectivas organizações. É comum encontrar o manual da qualidade como um único documento e claramente identificados na documentação do Sistema de Gestão da Qualidade – frequentemente como MQ ou MSQ e com a numeração inclusa pois referem-se aos requisitos que os solicitam.

Também existem manuais compostos por vários documentos. Costumo dizer que são picados os requisitos entre estes documentos. A IATF 16949 permite que sejam adotados com a condição de que uma lista seja mantida com a relação dos documentos que formam o Manual da Qualidade.

Ironias a parte, a nova revisão permite a versão eletrônica ou cópia física. Não há novidade neste aspecto pois uma grande parte das empresas utilizam a versão eletrônica em suas redes internas, intranet ou internet corporativa, entre tantas opções.

Uma lista contendo os requisitos mínimos é descrita na norma. Nada que seja diferente do que se praticam hoje em dia: escopo de certificação, processos documentados, sequência e interação dos processos. A novidade é a formalização dos requisitos específicos dos clientes com a indicação de onde dentro do sistema da qualidade são endereçados. Uma matriz é sugerida como forma de comprovar esta nova exigência.

O mínimo de informações que devem constar no manual da qualidade é descrito no requisito:

– Escopo do sistema da qualidade, incluindo detalhes e justificativas para quaisquer exclusões.

– Processos documentos estabelecidos para o sistema de gestão da qualidade ou referência a eles.

– A organização dos processos e sua sequência e interação (entradas e saídas), incluindo tipo e extensão de controles sobre quaisquer processos subcontratados.

Como era a adoção e utilização do Manual da Qualidade?

A ideia de manter um manual da qualidade está presente na ISO 9001 desde a emissão em 1987. Ou seja, desde a sua origem. Então quais seriam as vantagens e desvantagens em manter o manual da qualidade na empresa:

Prós:

– Manter a organização da documentação do SGQ

– Manual faz parte da gestão do conhecimento Organizacional

– O manual faz parte da integração de novos funcionários

Contra

– O manual é burocrático e de pouca relevância ao SGQ

– Cultura – impactos e interdependência entre setores / departamentos

– Não é preciso manual para manter melhores práticas

O manual da qualidade deveria ser um documento útil e acessível a todos na empresa

O Manual da Qualidade é um documento que por definição deveria trazer a diretriz do sistema da qualidade em atender aos requisitos da norma, requisitos legais e requisitos dos clientes. A sua estrutura deveria nortear todo o sistema da qualidade.

A norma traz orientação mínima sobre ele e, deixa livre a sua elaboração. Muitos acham que se trata de um documento inútil e ineficaz. É por isto que muitos gestores de qualidade acabam por transcrever trechos completos da norma como se fosse a diretriz desejado do SGQ – Sistema de Gestão da Qualidade. Definem como se aquele conteúdo fosse criado e estabelecido pela organização. Mas quem conhece o texto base da norma identifica rapidamente que se trata de mera cópia. Assim muitos acham que é irrelevante ter um manual da qualidade.

A norma IATF não seguiu a ISO9001 e manteve a exigência de existir um manual da qualidade no SGQ. Mas não acrescentou muito em termos de requisitos. O Manual da Qualidade deveria trazer informação útil à estrutura do sistema de qualidade e dar a base para que seja mantido e sustentado.

O Manual da Qualidade deveria ser o alicerce do sistema da qualidade nas empresas. Embora não seja valorizado pelas áreas e pessoas que compõem o dia a dia da organização é nele que deveriam constar as intenções e estratégias declaradas da empresa em relação a cada um dos requisitos. Com base nele todo o sistema da qualidade deve ser estruturado, ajustado e adequado. Os auditores internos e externos deveriam ter a noção exata do sistema da qualidade ao analisar este documento.

Será que seu próximo manual da qualidade será diferente?

Um Manual da Qualidade que passe longe da transcrição da norma aplicável é esperado. Um detalhamento das diretrizes e práticas adotadas ou esperadas pela empresa deve ser a base deste documento. É preciso que seja muito mais do que uma mera obrigação pois assim todos continuarão a desprezá-lo e os auditores serão obrigados a continuar aprovado pois atendem o mínimo requerido pelas normas.

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